De vinte oito a trinta


De vinte e oito a trinta, meu coração vai de zero a mil em um segundo;
Nada que ocorre é por acaso. Todas as coisas preservam um porque de ser;
Até a mais proba inocência necessita ser velada e dita para florescer;
Eu sucumbi de um morro abaixo e bati asas além do além dos seres fortes;
Vomitei meu asco e engoli completamente o pus que tu me deste de manhã;
E não foi pouco, foi de saciar a fome duas nações por vinte gerações.
Você me pôs ao extremo do amor, do tesão, do ódio, do nojo de todas as coisas.
Idiota. Amanhã é dia primeiro. Voltarei para a polis do eu que quase perdi
Aos caminhos de tua bárbara incoerencia aceno de longe um tchauzinho murcho.
Há muita vida pela frente, do lado, em cima, embaixo, do avesso dos ponteiros.
Do outro lado do oceano atlântico.

Michael Wendder - Direitos reservados

Quem aqui tem preconceito?


Pré conceito: Algo antes de um conceito real, ficto ou, nas sábias palavras do Pai dos Burros, é qualquer sentimento ou opinião, favorável ou desfavorável, sem exame crítico. Cadê a razão desse povo? Preconceito: Que palavra pesada essa! Imagina, em pleno século XXI, onde tudo é tão “de boa”, particularmente, até axo chique de ver um “negrinho” atuando nas novelas ou ver um “pretinho” ser escravo em alguma peça teatral. Quiçá seja selecionado ainda para um “Grande Irmão” desses tantos da vida. É vip, fashion, está em evidência: Hussein Obama que o diga.
Semana passada, liguei a televisão e fiquei indignado com uma notícia de violência entre jovens “boiolinhas”. Tadinhos, que culpa eles tem se não gostam da fruta? Que culpa? Ao mais, todo mundo sabe que desde os tempos mais remotos da história a “viadagem” corria solta e era normal. Não sei por que e pra que todo esse alarde hoje em dia. Que povo intolerante!
Em verdade, creio que estão tentando “denegrir” nossas verdades atuais. Só pode viu. Mas, não vou discursar sobre esses estereótipos: Sou uma “negação” nisso. Nesses tempos em que a coisa está “preta”, “negarei” ainda mais pegar a onda do casulo ou do acaso planejado.
Ouvi tanta coisa ultimamente que resolvi mudar. Em casa não tomamos mais Coca-Cola, isso engorda, deixa a gente “balofo” e muito feio. Nossa! Ninguém merece aquelas dobrinhas na praia. Cada pneu que mais parece um estepe. Tapo os olhos e quase fico... Não, não. Pensando bem, cego, não... Usar óculos? Que coisa de velho, é muito escroto. Nem rola. O negócio é malhar o “corpitcho” e usar uma lentizinha verde, evitar sol pra não queimar, né e ser feliz, “igual a todo mundo normal”. Já posso ate ouvir o grande coral: Lindo, tesão, bonito e gostosão!
Mudando um pouco de assunto, mas na mesma vertente, eu como sou um cara moderno e sem nenhum tipo de preconceito, sugeri pra minha esposa uns “rolés a três ae”, “uns pegas”! Saca aquelas trocas de casais. Ia ser o bixo. Mas, porém, entretanto, todavia, contudo, então, ela como é muito cabeça fechada surtou. Disse que eu não a amava mais e etc. Enfim, já estava decidido. Saí de casa e fui me divertir um pouco.
No caminho, parei num bar bebi muito. Fiquei puto porque Doriana não estava comigo né. Puxa a gente tem uma história juntos. São 03 meses de casado. Isso é quase uma vida brow. Ainda mais, se for pegando todo dia o mesmo arroz com feijão e osso. Como é magra. Mas, antes magra que leitoa.
A cada gole, a cada trago, a cada pedra no sapato que tirava e cheirava, a vida melhorava. Mó viagem, um misto de chulé e baseado saca. Demais velho. Tomei uma decisão: Se saí de casa pra me divertir, eu ia cair na gandaia mesmo. Antes de ir pra assistir os casais “ficando”, parei numa boate iluminada.
Caracas! Puta que os pariu e a mim também. A eu não: Nunca vi tanta gente reunida num só lugar. Parecia fila do dia de Cosme e Damião ou Show de Grátis do Luan Santana na periferia. Quanto nego. Alguém aí chacoalhou o pé de jabuticabas ou as sementes de melancia maduraram todas no meu jardim?
Nos meus tempos de glória, as boas festas eram nas casas mesmo ao som de Michael Jackson, Madonna ou algum cantor punk louco que gritasse alto e dançasse bem. Dizem que quem está na chuva é pra se molhar, logo, entrei na tal festa. Sentei num dos banquinhos de lá e o que eu vejo? Dois machos colados. Que merda era aquela mano! Fiquei na minha. Eu não tenho preconceito não, mas, sei lá. Estranho.
No fundo, algo me chamou a tenção naqueles dois “viados duma figa”. Firmei os olhos e vislumbro Dinho, meu filho de 13 anos. Nossa, como eu soquei a cara dele de porrada. Que vergonha! Alias, eu tentei né. Contudo, o “boy” dele não deixou e me expurgaram da festa. Eu filho, um terceiro sexo? Demais pra mim.
No outro dia soube que era uma festa “do babado”. Dae se explica tanto saopaulino juntos num mesmo lugar né. Foda. Tenso. Que era aqeuilo. Alias, que foi aquilo.
Minha mulher, quando entro no quarto está deitada com poucas roupas. Há vinho derramado pelo chão, uma calça que não é minha e toda sorte de restos, os mais íntimos de uma noite “nada bem dormida” por todo lado que se olhava.
Literalmente! Meu mundo caiu! As palavras de Maysa nunca foram tão orquestradas na minh’alma. Não é fácil ter um filho homossexual. Eu falo porque o filho da vizinha do 315 é uma “bixinha” doida. Pensa, e se ele, meu garotão, quiser por peitinhos? E se começar a falar fino? Pior, e se virar saopaulino e se casar com um corintiano? Só faltava agora querer virar muçulmano e sair por aí explodindo escolas, creches, orfanatos ou matando um astro pop pra intentar ser “mais popular que Jesus Cristo”.
Fiz meu porta retratos, ou seria mais o me porta retalhos: Uma mulher vadia. Um filho homossexual e sim, eu descobri tempos depois: ele tinha um Alcorão na gaveta. O que mais me falta acontecer?
São 06h30 do dia 17 de março de 2008. E acabo de lembrar o que meu dia precisa pra nascer feliz: Tenho urologista logo cedo. Mas ele não vai enfiar aquele dedão no meu reto nem a pau. Vamo tudo pela maquininha, pela tecnologia. O que é isso? Já pensou um puta “negão” mandando ver o dedo em mim, deflorando minha inocência. Isso é não preconceito. Mas, acho natural se tiver que morrer de mal da próstata. Todos vão morrer um dia mesmo. Ao menos não morrerei violado. Deixe o lacre como Deus o fez. Piscando apenas quando o medo aperta e olha lá. Afinal de contas, quem tem, tem medo.
Cheguei num ponto tal que a minha filosofia atual é não pensar em mais nada. Penso em voltar à escola e retomar os estudos apenas. Não quero viver como um bando de índios vagabundos, o dia inteiro debaixo de sombra e água fresca e chamar isso de cultura. Ou esses pagodeiros que se dizem músicos. É o fim da picada. Inchada na mão “negada”. Fala sério! Ainda, como aquela “” toda que trampa pra eu em casa e na empresa. Vida de pobre me da arrepio. Asco.
Um tal de tomar água em copo de massa de tomate, dividir o mesmo sanduiche de “mortandela”, fazer comprar em brechó, por água na geladeira em litro de guaraná barata. Para com isso. Que derrota! Eu não sou preconceituoso, só penso que as pessoas, sei lá o que pensar delas...
Esses dias minha cunhada teve o disparate de apresentar o genro dela com o maior orgulho: “Olha gente, o Zé é um moço direito, honesto, trabalhador”. Vi naquele discurso um ar tão puritano que me embrulhou o estomago. Não falou o essencial: Era servente de pedreiro. Ganhava uma fortuna por mês, cerca de uns seiscentos reais. Preço que não pago nem o meu IPVA. Isso é orgulho? Fala, fala, fala sério, né?
Pra ajudar, minha ficante está gravida. Fazer o que né? Vamo criar o “bagulho” que ta vindo ae”. Mas, não quero minha futura filha enrolada com um pedreiro ou serviçal qualquer não. Filha minha vai namorar um cara legal e normal, iguais os outros, iguais a ela. Nada de “cabelos pixaim”, ficar cinza no frio, nariz de coxinha amassado e nem poder pegar um bronze lá na nossa casa de Angra. Eu mato ela!
Pensando bem, vou escolher a dedo o futuro paquerinha dela quando chegar a hora. Vou preserva-la dos aidéticos, dessas baleias esfomeadas que comem demais, desses índios, pagodeiros, boiolinhas, biscates de esquinas, porque do jeito que esse mundo está cheio de gente preconceituosa, são até capazes de acreditar em Isaias e queimarem o Cristo Europeu de olho azul. Que sacrilégio.
Desse mal eu não morro. Eu não tenho preconceitos! E livrai-nos do mal; Amém.