Meu asco

Há uma ferida aberta no peito;
Uma fístola ardente e cega;
Que do leito serpente se apega;
E se esconde num perto perfeito.

Há um odor puritano confeito;
Uma fé que não vive o que prega;
Um crescido que sempre renega;
Que o caminho correto é estreito.

Uma fé machucada soluça!
Um fracasso mesquinho sobeja.
Cansei. Posto tudo, larachas?

Uma fera mancando: soluça?
Um final maquiado solfeja;
Cansei. Posto tudo: lamaças!

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Pêra, uva, maça: Salada mista!


Havia um tapete de flores pela rua;
E sabões de uma só marca espumavam;
Tantos gritos de eufóricas conquistas;
Entre o mundo de formas e o destes: outros;
Riram-se das aquarelas postas e sem saber;
O som de outras vozes ganhou pulsos;
Salada de frutas: pêra, uva, maça, salada mista!

Antigamente poucas casas tinham armários
Frios e sem cor alguma que pudessem ver.
Freqüentemente muitas cores dão-se à vista;

Prazos para que? Já passaram os quinhentos anos
Um milhão de fantasias e sonhos realizados!
Riem-se ainda alguém ou calam-se em copas às?

Férulas à parte, medos, vontades. O novo chegou!
Afinal é Brasil: a mais apaixonante nação do planeta!
Vaidades que só os mais atrevidos seres dispõe, de fato
O mundo mudou e mandou um recado, se possível escute;
Rir, matar, chorar, não adianta. Decore: Pêra, uva, maça: Salada mista!

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Alguém se importa?


Despede-se a virgem noite dos céus de agora
E surge o dia nu a minha frente, completamente.
Tão probo o era que respingos orvalhos lhe seguiam;
Pés a pés marcados nos rios-chão de areia afora.

Cuido, então, para que ele permaneça livre
E mais tarde, se tiver vontade de vestir-se
Que o faça cobrindo minha noite de mais sonhos;
Ou o meu agora de menos desespero e solidão.

Creio que minhas palavras ecoam no vácuo
Onde só eu mesmo ouço e olha lá. Às vezes nem eu.
Entendo uma tela abstrata. Mas, não me defino.

O dia despido me chama? Pro amor ou pra cama?
Pro toque que devora ou ama? Hei, alguém se importa?
Eu só queria amar e por meu mundo acorrentado pra fora.
Meu mundo tão acorrentado: vá embora!

Meu anjo humano pecou e desceu;
Meu canto insano secou e morreu;
Meu verbo divino parou, voltou, se perdeu.
Eu não quero a verdade. Não agora.
Eu só quero ser feliz, imediatamente.

Que vale mais: o perfume das cores ou os tons da alegria?
O cheiro da rosa ou minha louca poesia?
Alguém se importa? Sim? Tu és doido!
Alguém se importa? Não? Então cai fora. Mala!

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A um grande amigo


Amigo, cante uma canção para eu;
Algo doce e sereno, apenas.
Não precisa ser grande, rimado ou cheio de poesia;
Essa canção só precisa ter o tom da tua melodia.
Não precisa ser imortal. Quem precisa ser imortal quando se é inesquecível?
Daqui a pouco deitará a tarde no colo da noite
E o sol repousará no oriente afora.
Eu, eu estarei aqui de olhos bem fechados,
ouvindo o som irreventente e indispensável da sua voz!
Que não precisa dizer muito. Que não precisa dizer nada
Mas que nunca deixará de ecoar na minha alma as sábias palavras de um Rei:
"Como é grande o meu amor por você"

Dedicado a um grande e eterno amigo: T.F.B

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Apague a luz


Não estou com medo futuro. Mas, com receio do presente!
Esses embrulhos com laços tortos de lembrança tão loquaz;
São como festival de inverno em canto quente e úmido qualquer
Se pudesse, jamais tornaria a sonhar com você. Eu caminho.
Sim, e como eu caminho. Mas a êxtase do seu “jeitinho” me acompanha;
Exorcizo, tento correr mil léguas por segundo pela Terra e nada.
Apenas cansam minhas pernas e braços, desfalecidos sem ar.
E o coração? Ah, esse não te esqueceu ainda. Seja pelo bem ou mal
Bom ou ruim, certo ou errado. Não sei a cor das sombras e da sua mais,
Nem da minha alma, se é que a tenho ainda, perdida, mutilada e órfã
Maria deixa-me realmente virar a página. É preciso, por favor!
Não estou com medo do futuro, só dispenso o presente.
Meu aniversário é só no fim do ano. Agora silencio, preciso voltar à caminhada.
Apague a luz da memória pra que eu possa trocar os meus passos!

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Ao vento


Hoje eu vi as sombras da tua presença estacionada;
Esperando pelo trêm das onze para as seis ou sete;
Não me recordo bem. Meus olhos são astutos, rápidos;
Mas, não se prestam à apreciar qualquer paisagem moribunda.
Foi-se o tempo em que eles brilhavam por nada;
Foi-se o tempo, junto com tuas pálidas memórias.
Então, eu recobro o pensamento de ímpeto e projeto;
Uma pequenina luz de verdade nesse mar de merdas
Que me ofuscam as narinas e visão polui nojenta.
Pudessem vaiar minhas mãos o adeus te que acenam;
Eu certamente sentiria lástima de ti que nada ostentas
Senão o meu lamento por serdes assim: tão vazia quanto o nada
Tão fria quanto a escuridão de almas perdidas em si mesmo;
As tuas palavras? Essas me dão pena de ti ou riso!
Devo acender, assoprar ou inçar uma vela?
Assoprar não condiz com as semas, tão pouco lhe dou parabéns;
Acender, bem mais certo seria, visto o enterro de ti;
Posto içar, eu farei certamente, pra mares, oceanos, lugares
Onde as tuas sombras não me alcancem nem em meu lamento!
Nem no meu sorriso, nem no meu desterro, nunca mais na vida!
Isto é sentimento. De ti vem só palavras, pequenas, frágeis
E vomitadas ao vento... E vomitadas ao vento ... vento
Memórias que não lembro de lembrar... Ao vento!

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Dos umbrais da tua janela


Preciso aprender a sufocar as minhas lágrimas,
Beber minha calma num só gole-dose
E quem sabe deslizar num barranco qualquer minha burrice proba,
Preciso nascer de novo? Voltar pro ovo? Que diz, meu povo?
Ah, cala a boca. Tem gente demais falando, gente demais morrendo;
E gente demais matando a espera do milagre antigo: Lázaro!
Desabafos à parte. Canalhices à porta. Tribunal de apartes,
Eu só queria saber o que é o amor visto dos seus olhos,
Estas pretinhas sementes de madura melancia israelita.
Eu só queria me ver como você me enxerga,
Sentir, como você me sente: frio ou ardente?
Moleque, macho ou eloqüente? O que pensas de eu?
Volto a melancolia exordial e choro um sentimento estranho
Não é dor, nem amor, nem ódio, nem desejo ou rancor: Não é nada.
Continuo chorando e, espera um pouco. Estou soluçando em risos,
Rindo ou chorando? Cantando ou assoviando farinhas? Que sentimento é esse?
Poe outra dose de ti no meu copo. Mas, não seques a garrafa do meu coração
Não antes de’u descobrir como seria eu, visto dos umbrais das tuas janelas.

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