
A chuva vai,
Onde foi que nós perdemos a chance de encontrar os pingos sobre a face;
E correr pelas areias úmidas de felicidade sem os temores vermífugos de hoje?
Onde foi mesmo que o canto dos anjos desafinou nos fios relampejos da noite
E nem pudemos perceber que o dia raiou e já era tarde. Onde foi mesmo?
A chuva cai,
Despenca no solo deste seco mangue, um vil odor de adeus sem medo;
Sem dó, sem piedade, sem vontades e verdades. Só restam lamas e lamurias.
Que a cada passo dado nesta esteira frontal, doze mil são regressos ao nada
Onde foi que o sabor dos sabores findou-se? Ele sequer existiu? Será?
A chuva sai,
Pelas janelas da minha alma e escorrem pelo rosto a pena da tua sina;
Tão jovem e imatura tuas decisões infante que nem as indago mais.
Evaporam-se pra um céu de mármore frio e morto como tuas palavras;
Que nem quero e posso ouvi-las. O resto é resto. E o fim não é: “era uma vez”
É simples, pura ou dramaticamente o fim. Ponto final sem voltas e traços.
A chuva , Pai,
Acena para eu tão célere e cruel, que já nem sei a cor das folhas ou dos frutos;
Onde foi que eu pensei haver o nós e as vozes todas misturadamente nítidas.
Que encantavam os verões da minha senda pitoresca. Mas, sensata e fiel.
Enquanto eu tomava banho de chuva, um vendaval me consumia vagarosamente
Onde foi que nós perdemos a rima? Foi bem ai que nossa vida virou o cada singular De ontem, Hoje, apesar das manchas, eu sobrevivi ao novo tempo que brilha.
E você, ex-nós? E você? Chega de encharcar as ideias.
Renasça para não apodrecer na casca e vai voltar a rima. Ponto final.
Michael Wendder - Direitos reservados