Um feixe de verdade


A verdade, como um feixe de luz no quarto escuro,
Entrou, sentou e fechou a porta e as lacunas da janela.
Me falou tanto de si que tive medo e dor.
Me falou tanto de mim que tive dores e medos.
E meus modos? Onde despencaram os meus modelos?

A verdade, este arder em frio na mor célebre inversão,
O tal "olhos nos olhos" . Nada é tão fácil assim com ela.
Nada é tão difuso ou simples assim, diante dela.
Quem vai guardar meus segredos se olhar a verdade
meu cofre de planos? Ou quem vai esconder meus desejos
se ela se pôr como solo, quiçá quina, círculo e traços?
E o que seria das reticências se elas ganhassem voz?

A verdade depois das interrogações e dos tantos porques
Que viu em mim passar e desfilar como um brinde festeiro,
Saiu. Ela saiu ou menos tentou. Cadê a porta? Cadê?
Parou, ficou em pé e voltou dois ou três calados passos.
Tempo o bastante pra me sortir um nova mentira.
Não obstante pra mim sorrir uma nova mentira.

A verdade do mundo é assim: entre um nova mentira e,
Uma velha verdade, é incrível, o novo sempre vence,
Ainda que sob pós e tintas maquiado. Isso é beleza.
Então nossas verdades sempre novas mentiras,
E nossas mentiras: verdades transviadas de convicção.

O consolo dos mártires e de nossos avós é uno.
Vence, mas não triunfa a nova falácia sobre a velha liberdade
Não enquanto houver um feixe de verdade e verdade.
Sendo toda diferença em meio as sombras da escuridão

Michael Wendder - Direitos reservados

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